Indiferença

Eu estava, no ínicio da tarde, esperando meu ônibus. Chegou um velhinho, com uns tubinhos no nariz, que eu não sei o nome, mas parecido com aqueles que pessoas internadas com doenças pulmonares utilizam. Ele parou ao meu lado, e tinha a respiração ofegante. Fazia um sol escaldante, e não tinha nem uma sombra.
O ônibus dele veio, ele fez sinal, o ônibus parou e o motorista disse, meio constrangido:
-Não têm lugar para passe, não!
(explicando: na minha cidade a grande maioria dos ônibus só tem uma porta. Antes da roleta há 3 lugares onde viajam as pessoas com direito a gratuidade-que não tenham o cartão que passa na roleta- se ali não tiver lugar, a pessoa tem que esperar o próximo ônibus)
O senhor disse, com voz quase inexistente:
-mas eu preciso entrar.
-não tem lugar, meu senhor, vai ter que esperar o próximo.
Nos 3 lugares haviam duas estudantes e um outro funcionário de empresa de ônibus.Ninguém se mexeu para dar o lugar.
Ele continuava com a respiração díficil e suando muito. Em um ímpeto de raiva, ele entrou no ônibus, enfiou a mão no bolso para pegar dinheiro para a passagem e notou que não tinha dinheiro suficiente. As estudantes começaram a rir!
O que eu podia fazer? Nada!
Mas, aí quem ficou com raiva fui eu...
Comecei a falar que elas eram mal -educadas, idiotas, que não tinham um pingo de respeito pelo ser humano, mas me senti mais babaca ainda por não ter 1 centavo para pagar a passagem dele.
Veio o meu ônibus, eu tive que ir...sem acreditar o que tinha visto: Um idoso doente, sem direito a pegar um ônibus, e sem ao menos contar com a gentileza do ser humano.
Entrei no meu ônibus, sentei, olhei pela janela...
Ele estava na calçada com os olhos cheios de lágrimas.
Virei para o lado e chorei, chorei muito, de soluçar.
Como pode, um ser humano, que deveria estar vivendo sua velhice de uma forma digna,ser enxotado de um coletivo e não contar com alguém para ceder o lugar a ele?
Meu Deus, que motivo elas tinham para debochar do pobre velho? Que mundo é esse onde uma assento de ônibus vale mais que a vida ?(lembrando, ele estava muito mal)
Tive que chorar, precisava.
Me senti tão impotente, tão covarde, idiota
Queria poder fazer algo por ele naquele momento. Queria fazer pelos outros também.
Queria poder dizer a adolescentes e crianças que velhinhos são pessoas que já passaram por tantas coisas, que merecem nosso respeito, nosso cuidado...
Ai, doeu tanto. Está doendo até agora.